Hoje, 7 de abril, a Organização Mundial de Saúde (OMS) comemora 75 anos de existência. Essa também é a data designada como Dia Mundial da Saúde e o tema de 2023 é “Saúde para todos”.
Se considerarmos que a intenção da celebração deste dia é promover uma maior conscientização sobre a importância de se cultivar melhores hábitos para a qualidade de vida em geral e que, sem alimento, não é possível alguém ser saudável, até podemos estender o entendimento do tema deste ano para algo como “Saúde, comida e dignidade para todos”. Afinal de contas, como ter qualidade de vida e saúde sem ter o que comer?
É sempre bom relembrar que o acesso ao alimento é um direito humano universal. Porém, sabemos que atualmente esse direito tem sido negado a muita gente. Segundo a FAO, em 2021, havia quase 830 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave em todo o mundo. Infelizmente, esse número continua a crescer.
Quando olhamos para os outros dados que compõem o cenário da fome, percebemos que este é um problema que permeia toda a sociedade, porque vai desde as questões das perdas e do desperdício na cadeia produtiva, passando pela falta de acesso ao alimento por razões políticas, comerciais, sociais etc., até o resultado final disso em tantas áreas, como a falta de acesso aos estudos, ao mercado de trabalho e ao mínimo de dignidade.
Além de tudo isso, não podemos deixar de olhar para as minúcias da fome, em especial, com relação aos grupos mais vulneráveis a ela, principalmente, os domicílios chefiados por mulheres e, ainda mais, as de etnia negra. O que se pretende aqui não é levantar mais uma bandeira de disputa ou de luta pelos direitos de grupos menos favorecidos – não por não valer a pena, mas simplesmente porque já existem as pessoas certas e capacitadas trabalhando nesse sentido. O que se quer é trazer luz para a interseccionalidade da condição da fome, pois ter consciência dos fatos vai nos ajudar a evitar que eles se repitam pela nossa própria ação.
Parece bastante lógico, apesar de nem sempre vermos acontecer assim, que garantir saúde para todos passe, antes, por assegurar o acesso ao mínimo de alimentos necessários para a manutenção da boa saúde.
É claro que se uma família não tem nutrição adequada, não poderá contribuir com o crescimento da economia, porque não conseguirá sequer se inserir no mercado de trabalho, por falta de condições mínimas de saúde. E esse cenário é muito mais evidente e visível entre as mulheres ou nos domicílios chefiados por elas, como apontado anteriormente.
Mas então, o que pode ser feito? Não existe uma fórmula mágica ou um salvador da pátria único. Mais uma vez, é imprescindível que sejam feitas análises amplas e que se considerem todos os marcadores sociais das desigualdades, como cor/ raça/ etnia, gênero, classe social, sexualidade, tamanho corporal, idade etc. E, tão ou mais importante, é preciso que os responsáveis pelas políticas públicas para a melhoria das condições de vida façam uso dessas análises, tornando, assim, essas políticas mais efetivas.
A interseccionalidade dos fatores que permeiam a fome não torna mais fácil o trabalho da sua erradicação, mas certamente faz com que deixemos de lado a forma unilateral de avaliar e atuar sobre o problema. Isto não é novo; já ouvimos várias pessoas, de todas as esferas da sociedade, falando sobre a importância de olharmos para os nossos problemas sistêmicos sob novos prismas. Mas nunca é demais reforçar que essas visões ampliadas são mesmo essenciais para encontrarmos soluções diferentes, melhores, porque não dá para resolver uma questão tão multifacetada com esta, atuando em apenas uma das suas frentes.
Cada um precisa fazer a sua parte para garantir esse direito universal ao alimento, à saúde, à vida digna.